
O governo federal anunciou uma ampliação na fiscalização sobre transações via Pix, com o objetivo declarado de combater fraudes e sonegação. Embora a intenção fosse legítima — aumentar a segurança do sistema e garantir maior controle fiscal —, a forma como a medida foi comunicada causou um verdadeiro efeito dominó de boatos e insegurança.
Rapidamente, espalharam-se rumores de que o governo criaria um novo imposto sobre o Pix ou passaria a tributar pequenas transferências entre pessoas físicas. O resultado foi imediato: forte reação negativa nas redes sociais, queda significativa no uso do sistema (quase 11% em apenas uma semana) e um desgaste desnecessário da imagem do governo.
Para tentar conter a crise, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, precisou vir a público esclarecer que não haveria imposto adicional, e acabou revogando a medida. Mas o estrago já estava feito.
A falha não foi apenas técnica, mas principalmente política e comunicacional. Um governo que deseja manter credibilidade precisa explicar com clareza e antecedência qualquer mudança que impacte diretamente o bolso e a vida do cidadão. Quando a comunicação é truncada ou ambígua, abre espaço para desinformação e desconfiança — sentimentos que minam a confiança não só no governo, mas também nas instituições financeiras e nos instrumentos digitais que o Brasil tanto avançou para construir.
A crítica aqui não deve ser interpretada como uma negação da importância da fiscalização ou do combate à sonegação. Pelo contrário: um sistema financeiro mais transparente fortalece a economia e combate privilégios. Mas, para isso, é preciso respeito ao contribuinte e ao pequeno usuário, que muitas vezes depende do Pix no dia a dia para pagar contas, receber pagamentos ou ajudar familiares.
Caminho para o Brasil
O Brasil precisa de um governo que saiba ouvir antes de agir, que se comunique com clareza e que coloque o cidadão no centro das decisões. Antes de lançar medidas que afetam milhões de pessoas, é fundamental criar campanhas informativas, abrir espaço para debate público e construir confiança.
Não se trata de esquerda, direita ou centro: trata-se de respeito, planejamento e responsabilidade. Um país mais transparente nasce de governos que saibam explicar suas ações, corrigir rumos com humildade e, acima de tudo, dialogar.